quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Forno Medieval

Bom dia

Como o nosso amigo Carlos Pereira tinha "prometido", enviou-nos um texto com a história do Forno Medieval, não só da sua construção, mas também das intervenções nele efectuadas após a sua descoberta, por volta dos anos cinquenta.

“FORNO MEDIEVAL DE ALCOBERTAS

O forno de Alcobertas foi descoberto nos anos cinquenta do passado século e as primeiras referências a este, de que temos registo, são-nos dadas pelo arqueólogo Afonso do Paço1:

A cerca de 200 metros a E. da povoação (...) encontrou-se quando se procedia à limpeza de terrenos para a instalação de uma fábrica de cerâmica, a fornalha e lar de um velho forno da mesma especialidade

(...), muito antigo porque a aluvião de barros que sobre ele estava depositada atingia mais de metro e meio de altura, e neles vicejava uma velha oliveira multi-centenária. Será necessário proceder a escavações à sua volta a fim de procurar qualquer elemento que nos permita atribuir-lhe uma data aproximada. (Paço 1959, pág. 291)

Em época que não conseguimos precisar foi construída uma protecção em tijolo, com uma cobertura de telha tipo marselha.

Durante algum tempo o local ficou votado ao abandono e começou a ser usada para os mais diversos fins (guardar gado caprino, palheiro, etc.), até que, nos anos oitenta, o telhado e grande parte das paredes ruíram.

No início dos anos oitenta do séc. XX, o rancho folclórico dos Chãos, retirou todo o entulho da derrocada da construção e fez a limpeza do forno.

Em 1987 a equipa da Carta Arqueológica de Rio Maior, liderada pelo Dr. Humberto Nuno de Oliveira, procedeu à limpeza do forno, de lixos e entulho, que entretanto aí se foram acumulando e informou-se a Câmara Municipal de Rio Maior, sobre as condições em que se encontrava o forno e sobre a urgência de o mesmo ser preservado.

No ano de 1998 a Associação Cultura Jovem em parceria com os Serviços de Arqueologia da CMRM, realizaram um campo de trabalho internacional com o objectivo de limpar, e fazer o levantamento exaustivo deste Forno e dos Silos, entre os vários participantes encontravam-se duas arquitectas Wendy Diamond (Austrália) e Karin Fehr (Suiça) que fizeram um estudo que serviria de base à actual cobertura.

A Junta de Freguesia empenhada em reanimar esta zona lançou mãos à obra e construiu o presente núcleo interpretativo deste sítio.


IMPLATAÇÃO / CONSTRUÇÃO DO FORNO

O Forno foi construído num maciço de grés do Jurássico superior denominado como "Grés superiores com vegetais e dinossáurios"2:

O desnível que aqui encontramos, foi criado, para a instalação do forno e de possíveis áreas de serviço e de apoio (depuração de barro, secagem de peças, etc.).

Para tal, procederam á escavação desta parte da encosta, criando-se uma plataforma e originando o talude hoje existente.

Depois foi escavado o espaço necessário para a implantação da estrutura do forno (fossa de alimentação, conduta, fornalha, câmara de cozedura).

A grelha apresenta diversas camadas de barro cozido que se destacam facilmente umas das outras e que serão resultantes do renivelamento da mesma. Trabalho efectuado sempre que a estrutura necessitasse.

Os buracos de saída de calor para a câmara de cozedura, são criados com a colocação de fragmentos ou de tijolos postos verticalmente, entre os arcos, e entre estes e as paredes, a tardoz e da frente do forno.

Sobre eles era colocado um fragmento de telha a todo o comprimento, ligando os dois pontos de encosto do tijolo ou fragmento, usando-se ainda o barro como “cimento”, reforçando-se, assim, toda a estrutura, conferindo-lhe grande robustez e estabilidade, permitindo ainda, um bom nivelamento.

Do que nos foi possível observar trata-se de uma prática comum, mas existem casos onde não foi colocado o fragmento de telha sobre o tijolo.

Os buracos de saída de calor são muito irregulares, não correspondendo a um único padrão, variando quer na forma como nas dimensões dos mesmos.
Os buracos duplos correspondem á divisão de um único com a utilização de um pequeno fragmento de telha, que nalguns casos, foi coberta de barro formando buracos de forma semicircular.

As paredes da câmara foram feitas de barro cru, encostado contra as faces do buraco escavado para a instalação do forno, sendo visível na face externa das mesmas, as impressões deixadas pela areia no barro, tendo sido posteriormente cozidas (não fazemos ideia se terá ou não sido na primeira fornada). Possuem uma espessura média de 10 cm. Formam um espaço subquadrangular com paredes ligeiramente côncavas e de cantos pouco espessos e arredondados.

A conduta foi construída depois da estrutura do forno, encontrando-se encostada a esta, sem se observar uma ligação entre ambas. Apresenta-se descentrada em relação ao eixo do mesmo.

A constante submersão do forno ao longo de vários invernos, levou a que parte da parede fronteira da câmara/fornalha, ainda existente em 1987, abatesse.

Esta situação permitiu a observação parcial, do aparelho construtivo, do primeiro arco que forma a câmara/fornalha. Este é composto por tijolos ou tijoleiras, colocadas em cunha.

Na construção deste forno foram usadas quer na estrutura como a dividir as saídas de calor, fragmentos de telha de canudo, que de forma alguma podemos considerar como pedaços de Imbrex romana, afastando-se assim qualquer hipótese de se tratar de um exemplar deste período.

A própria câmara de cozedura é divergente das dos fornos romanos, em regra circulares, enquanto que, no nosso caso, temos um espaço subquadrangular com paredes ligeiramente côncavas.

Pensamos que este poderá ter fortes probabilidades de ser medieval e eventualmente estar ligado ou relacionado com um espaço de cariz comunitário conjugado com os próprios silos, em virtude da proximidade dos dois sítios.”



Junto coloco também algumas fotos igualmente enviadas pelo Sr. Carlos que representam alguma história do forno e duas reconstituições do mesmo.


Foto 1: Descoberta do Forno


Foto 2: Após limpeza feita pelos serviços de arqueologia da Câmara


Foto 3: Reconstituição em corte do forno aquando da sua laboração



Foto 4: Reconstituição em 3D do Forno

1 comentário:

Coiso disse...

Boa tarde
Peço desculpa pela má construção do texto.
Esta má apresentação do mesmo foi devida à colocação das fotos posteriormente ao texto!

Boa Noite