Igreja de Santa Maria Madalena
O DÓLMEN
Classificado como Imóvel de Interesse Público, Decreto-lei n.º 41191, Diário do Governo n.º 162 de 18 de Julho de 1957.
Megálito com corredor. Oito esteios de calcário da região formam uma câmara poligonal, o monólito que tapava esta câmara (chapéu) partiu-se em período incerto.
A actual cobertura do Dólmen é datável do séc. XVII / XVIII, sendo constituída por um telhado de telha mourisca, encimado por um pequeno fogaréu. O telhado é suportado por uma estrutura abobadada de alvenaria, com um lanternim a iluminar o esteio central, onde se adossam os altares primitivos e uma imagem em terracota. Subsistem ainda alguns fragmentos do chapéu acoplados nesta nova estrutura de cobertura.
Do corredor apenas existem dois esteios com a respectiva pedra de cobertura.
O altar mais antigo encosta directamente ao esteio de cabeceira. O topo é revestido a tijoleira cerâmica, as paredes são cobertas a argamassa de areia e cal. Na parte frontal ainda ostenta pintura vegetalista estilizada realizada a têmpera de cal.
Encostado a este altar foi construído outro no séc. XVII de menores dimensões. O frontal deste altar foi totalmente revestido com azulejo de tipo padrão e um pequeno quadro azulejar representando Santa Maria Madalena desnuda.
O Arco de acesso ao monumento está revestido a azulejo tipo padrão do séc. XVII, sobre este temos um painel de azulejo representado Santa Maria Madalena em Oração.
Hoje a Igreja de Santa Maria Madalena encontra-se inserida no tecido urbano da Vila de Alcobertas mas o facto de ser descrita como Ermida indica uma localização exterior aos núcleos urbanos desta região.
A IGREJA
Inicialmente a Capela de Santa Maria Madalena estava confinada ao espaço oferecido pelo próprio Dólmen, a 4 de Julho de 1536, o Cardeal de São Brás, Arcebispo de Lisboa, eleva esta ermida a primeira Igreja da Freguesia com jurisdição paroquial. Este novo estatuto leva a que se efectuem obras de ampliação de modo a responder às suas novas funções e eventualmente albergar mais crentes.
No século XVII assiste-se a uma nova necessidade de ampliar o espaço, sendo neste período que se dá a rotação do Templo para a posição que hoje assume. Em virtude da nova posição da Igreja, o Dólmen deixa de ser utilizado como Capela-mor e passa a ser apenas uma Capela lateral da invocação do Orago local, Santa Maria Madalena.
No decurso do século XX Esta Igreja irá sofrer duas novas campanhas de obras profundas.
A primeira em meados do século XX (anos cinquenta) vai retirar toda a traça barroca do imóvel.
A fachada sobe um registo, o frontão perde o recorte Barroco e assume uma feição triangular, os fogaréus do século XVII/XVIII são apeados e substituídos por outros mais pequenos.
A Torre Sineira vai subir dois registos, é incluído um relógio e a cúpula bolbosa barroca, com os seus fogaréus desaparece, passando a ter uma cobertura piramidal de quatro águas.
É construído um pequeno alpendre ou galilé na área da entrada principal, utilizando-se as colunas que suportavam o Coro Alto e ainda uma pequena cobertura sobre a porta lateral quinhentista.
O acesso ao púlpito é demolido libertando o Dólmen nesta zona.
A Capela-mor é demolida e todo corpo da cabeceira ampliado. O Arco Triunfal foi alargado e eliminando-se dois nichos laterais ao mesmo e ainda um altar lateral, na parede esquerda, próximo da entrada do Dólmen.
Dois novos altares laterais foram construídos, em mármore rosa, o Altar-mor foi edificado com uma traça contemporânea utilizando-se em mármore negro.
As colunas do coro alto foram substituídas por duas novas com as bases em mármore rosa e os fustes em mármore negro.
Nas laterais ao Altar-mor construíram-se uma sacristia e uma sala polivalente por sobre estes dois novos corpos instalaram-se dois Coros Altos.
Nas paredes laterais da Igreja abriram-se dois vãos para a instalação de confessionários.
Em finais do século XX (1995 ? e 2000) em virtude de necessidade de ampliação do espaço o Templo vai sofrer novas obras, em duas fases.
No decurso destas obras assiste-se à demolição do Altar-mor, da sacristia e da sala polivalente, construídas no período anterior. Ainda na Capela-mor a parede lateral contígua a casa paroquial vai ser demolida abrindo-se um vão para a acolher mais fieis.
A pia baptismal do séc. XVI foi recolocada nesta área.
Os nichos e altar que foram tapados no decurso da campanha de obras anterior vão ser recuperados eliminando-se os alteares laterais de mármore rosa.
Os dois vãos onde se situavam os confessionários foram de novo preenchidos, ficando o antigo baptistério com a função de confessionário.
Foram abertos novos vãos de entrada de luz, localizando-as, ou usando para tal, os contrapontos em cantaria, do período barroco, das janelas existentes na fachada oposta.
Bibliografia onde se pode encontrar referências a este imóvel:
ALMEIDA, José António de (coord.), TESOUROS ARTISTICOS DE PORTUGAL, Porto, Selecçöes do Reader's Digest, 1982
DUARTE, Fernando, HISTÓRIA DE RIO MAIOR, Rio Maior, Tipografia Dias Ferreira, 1979
MARQUES, Cidália (coord.); FRAGOSO, Sara (coord.), ALCOBERTAS A SERRA E O VALE, Torres Novas, Agrupamento de Escolas da Freguesia de Alcobertas, Gráfica Almondina, 2000
MAIA, Calado da, HISTÓRIA REGIONAL – A Freguesia de Alcobertas e o seu Dólmen, Semanário “Concelho de Rio Maior”, Rio Maior, n.º 48 (13 Maio 1937)
OLIVEIRA, Jorge de; SARANTOPOULOS, Panagiotis; Balesteros, Carmen, ANTAS-CAPELAS E CAPELAS JUNTO A ANTAS NO TERRITÓRIO PORTUGUÊS, Lisboa, Edições Colibri, Julho, 1997
PAÇO, Afonso do; [et al] NOTAS ARQUEOLÓGICAS DA REGIÃO DE ALCOBERTAS (RIO MAIOR), Lisboa, I Congresso Nacional de Arqueologia, Actas e Memórias, Vol. I, MCMLIM
PEREIRA, Carlos M. C., A IGREJA MATRIZ DE ALCOBERTAS, Semanário “O Riomaiorense”, Rio Maior, 13 de Janeiro de 1994
PEREIRA, Carlos M. C., A IGREJA MATRIZ DE ALCOBERTAS, Semanário “O Riomaiorense”, Rio Maior, 20 de Janeiro de 1994
PEREIRA, Carlos M. C., A IGREJA MATRIZ DE ALCOBERTAS, Semanário “O Riomaiorense”, Rio Maior, 27 de Janeiro de 1994
SOUSA, F. Pereira; RIO MAIOR – A vila, seu Concelho e Comarca – Apontamentos e Excertos, Rio Maior, Tipografia Dias Ferreira, 1936
TORO, Bandeira de (dir.), O DISTRITO DE SANTAREM, Lisboa, edição do Jornal " A HORA ", tomo VII, Novembro 1939
ZBYSZEWSKI, G.; Almeida, F. Moitinho de, CARTA GEOLÓGICA DE PORTUGAL, na Escala de 1/5000, Notícia Explicativa da Folha 26-D, Caldas da Rainha, Lisboa, Serviços Geológicos de Portugal, 1960
De novo os nossos agradecimentos pela partilha desta informação, estou certo que muitas pessoas (incluindo eu) que vivem nas Alcobertas não tinham tanto conhecimento acerca deste Imóvel que acolhe a missa dominical todas as semanas!
Aspecto exterior anteriormente às obras de retirada do traço barroco
Esboço da "planta" da Anta/Dolmen
Acrescento para a frente da Anta no séc. XV e XVI
Igreja do séc. XVII até ao sec. XX (Antes das últimas obras)
3 comentários:
"Igreja"
"FESTA DAS COLHEITAS 2008-11-23"
FOI UM EXITO MESMO EM ANO DE CRISE
A TRADIÇÃO MANTEM-SE SÃO
OFERECIDOS OS MELHORES
PRODUTOS SEMEADOS E COLHIDOS NA
PARÓQUIA, BATATAS, HORTICOLAS,
VINHO, AZEITE, CEBOLAS, ALHOS, UM
BELO FRANGO (DE TEIRA), ABOBORAS,
FEIJÃO, NOZES, E OUTRAS COISAS
COMO BOLOS, ABAFADOS, PÃO CASEIRO
ETC. VINDO EM CORTEJO ALEGORICO
DESDE A CASA PAROQUIAL ATÉ À
IGREJA, ACOMPALHADO AGORA
PELOS ESCUTEIROS, PORQUE
ANTIGAMENTE ERA PELO POVO DA
PARÓQUIA SEUS AUTARCAS E OUTRAS
INDIVIDUALIDADES, MAS AS PESSOAS
PARA NÃO PERDEREM O (SEU) BANCO
NA IGREJA NEM Á PORTA ESPERAM,
O POVO OFERECE E TAMBEM COMPRA ……
O RESTANTE ESTÁ LÁ TODOS OS ANOS
O CLETO À ESPERA PARA FAZER O SEU
NEGÓCIO NO FINAL.
“A FESTA CRITO REI”
O comentário anterior é espelho do papel que este espaço pode assumir em Alcobertas. Desconhecia a tradição da “Festa do Cristo Rei”, como, certamente, desconheço muitos outros costumes e tradições dessa região. Em tempos falaram-me, por alto, da “Serração da Velha” o qual me fez lembrar um ritual de iniciação.
Vem isto a propósito do papel que este Blog, ou outro espaço similar, pode ter como repositório de saberes antigos, os quais vão morrendo com as gerações que nos precedem. Aquelas histórias que ouvíamos aos nossos avós, as mesinhas caseiras, gastronomia (estou a lembrar-me, se a minha memória não me atraiçoa, de um esparregado de urtigas e um outro prato com cardos) as rezas e benzeduras apropriadas a cada circunstância, é um conhecimento em risco de “extinção” se não for recolhido enquanto os mais idosos, detentores dessa sabedoria popular, se mantiverem entre nós.
É um desafio que lanço a todos os participantes deste espaço para deixarem aqui registado para a posteridade pedaços desse saber antigo para que os vindouros possam conhecer ou pedaço das vivências que, em virtude dos apelos, ofertas e vivências da sociedade moderna, os vai afastando desse conhecimento ancestral.
Este conhecimento que aqui pode vir a ser disponibilizado pode ser útil para, por exemplo, a população escolar de Alcobertas ter uma fonte de informação para trabalhos escolares.
É claro, que tal situação não implica que o Blog deixe de ser um ponto de encontro para o debate de todo o tipo de assunto, como tem sido até ao momento, nem tão pouco é esse o objectivo deste meu comentário.
Um abraço para Alcobertas
Carlos Pereira
Boa dia caros leitores e ilustres Alcobertenses
Não sendo eu tão velho como é insinuado no comentário anterior, aqui vou tentar deixar uma descrição de uma das nossas tradições conhecida como “Serramento da Velha”, respondendo deste modo ao desafio lançado pelo Sr. Carlos.
Antes de avançar para a descrição, agradeço que, se alguém achar que esta está incompleta ou incorrecta, se predisponha a acrescentar ou corrigir, tanto os erros como as falhas que detectarem.
Esta tradição normalmente realiza-se na quarta-feira no meio da Quaresma e vão ser “serrados” todos os que foram avós pela primeira vez durante o ano que decorre desde o último “Serramento da Velha”.
Nesse dito dia, por volta das onze da noite, numa qualquer adega (o local de reunião vai rodando entre os participantes) junta-se um grupo de amigos, elege-se os principais figurantes, procede-se ao levantamento dos Alcobertenses que foram avós nesse ano e estabelece-se a rota da visita.
Esta tradição tem três figurantes chave:
O Chamador
O Serrador
O Defensor
Os restantes intervenientes servem de coro e fazem barulho com as latas, com os búzios (dos usados para tocar), com os serrotes utilizando a cortiça, etc.
Saímos da adega, por volta da meia-noite, munidos de funis de folha, búzios pedaços de cortiça, vários serrotes e algumas latas para fazer barulho.
Chega-se ao local do visitado e o Chamador, fazendo-se passar por uma pessoa chegada ou por um amigo com um qualquer assunto urgente a tratar, faz levantar a pessoa visitada para que o venha atender.
A vítima ao chegar à porta ou à janela é recebida pelo Serrador que brame, alto e em bom som:
Serrador:
Este velho é serrado!
- De seguida responde o Defensor e inicia-se um diálogo entre os intervenientes no Serramento.
Defensor:
Este velho não é serrado!
Serrador:
Este velho é serrado e o seu corpo feito em três
Defensor:
Este velho não é serrado
Nem o seu corpo feito em três
Porque toda a sua vida foi um velho bom e cortês
Serrador:
Eu sou um serrador
Serrador de além-mar
E vim de lá tão longe
A (nome da localidade) vim parar
Defensor:
O que encontraste?
Serrador:
Encontrei um burro mamas
Num espojeiro deitado
Todo coberto de escamas
Tinha o cagas pendurado
Das orelhas fiz palmilhas
Dos colhões tacões
Do piçalho as viras
E do cu caga sarol
Toda esta merda a velha engole
Defensor:
Há Vô, Vô
Que é do teu contentamento
Tens os filhos à espera
Para fazeres o testamento
O que é queres para a tua filha Joana?
Grupo:
Os cabelos da bichana / Uma rolha para a bichana
Defensor:
O que é que tu queres o para a tua filha Joaquina?
Grupo:
A veia da urina
Defensor:
O que é que tu queres para o teu filho João?
Grupo:
A pá, o picão e um burro para ir à merda na noite de S. João
- Esta lenga-lenga pode variar consoante os nomes dos filhos do visitado
Defensor:
O que é que tu tens para os amigos que aqui estão?
Grupo:
Pão e chouriço e um copo do carrascão
Serrador:
Toquem búzios e tambores que o velho vai levar o cu entre dois entalhadores
- Nesta altura todos fazem barulho com os instrumentos e com a sua voz e vão para a adega do visitado. Após um pequeno repasto, devidamente regado, o visitado pode, se assim o entender, juntar-se ao grupo para as restantes visitas que se seguem, uma vez que este ritual vai-se repetindo em cada casa visitada onde resida um novo avô.
Hilário Costa
Enviar um comentário