quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Castro de São Martinho

Boa Noite

Depois do Sr Carlos Pereira deixar um excelente comentário acerca do Castro de São Martinho, vou colocar o mesmo como um post para que não passe despercebido dado que tem uma grande quantidade de informação acerca desse local histórico da nossa freguesia.

Se o Sr Carlos não quiser que este post seja colocado eu o retirarei sem hesitar, basta pedir em comentário

Desde já o nosso Obrigado pelo seu gosto e dedicação à nossa freguesia e pelos comentários que aqui tem colocado.

Castro de S. Martinho

O Castro de S. Martinho ocupa a cumeada de uma formação magmática de origem intrusiva, possuindo uma cota máxima de altitude de 300 m, designada por Monte de S. Martinho, devendo a origem deste topónimo a uma ermida da evocação deste Santo, construída no topo deste cabeço, possivelmente nos finais do séc. XV ou princípio do século XVI (usando como baliza cronológica a imagem de pedra policroma do Santo, hoje ao culto na Capela do Espírito Santo em Teira).

De acordo com a tradição oral local este pequeno Templo foi destruído por um raio, tendo os moradores de Teira levado a imagem para a sua capela de evocação ou orago ao Espírito Santo, mas o Santo tinha por hábito, durante a calada da noite, fugir para o topo do monte. A única forma encontrada para o sossegar foi abrindo uma janela pela qual a imagem de S. Martinho podia ver o monte (curiosamente na actualidade não existe qualquer vão aberto para o Castro e a imagem encontra-se de costas para o mesmo). Na primeira metade do séc. XX ainda existiam ruínas visíveis da Capela.

Esta formação situa-se entre o Casal da Velha e Teira, Freguesia de Alcobertas, Concelho de Rio Maior. Possui uma extensa vista panorâmica em todas as direcções, com um raio de alcance visual para Santarém, Serra de Montejunto e Serra de Aire.

A única excepção, no vasto campo visual que deste local se consegue desfrutar, ao encontra-se na vertente W e corresponde ao obstáculo criado pela cumeada da Serra dos Candeeiros, a qual não permite avistar a linha de costa a partir do Cabeço de S. Martinho.

Na base do vale formado pela linha intrusiva basáltica, onde se situa e se destaca o monte de S. Martinho, e a serra dos Candeeiros corre o ribeiro do vale da Laranja (neste vale existia uma nascente de água salgada que secou nos anos trinta do séc. XX). Nas encostas do monte de S. Martinho existiram, até ao momento da plantação intensa de Eucaliptos, diversas nascentes, fontes ou pontos de água.

Este sítio arqueológico conhecido, pelo menos, desde os anos trinta do século XX, nunca mereceu uma atenção prolongada por parte dos diversos investigadores que visitaram ou se propuseram a efectuar o seu estudo sistemático, não passando de recolhas de superfície e alguns trabalhos pontuais.

Saavedra Machado , faz referência a uma visita de Manuel Heleno a este local, desconhecendo-se contudo, se efectuou algum tipo de intervenção ou recolha de espólio.

O Coronel Afonso do Paço com Francisco Barbosa e F. Bergstrom Barbosa (riomaiorenses interessados em arqueologia) formaram uma equipa, que durante algum tempo se interessou por este e outras locais da Freguesia de Alcobertas, resultando desta parceria duas comunicações em encontros científicos.

A primeira destas, corresponde a um apanhado de diversos sítios de interesse arqueológicos na região de Alcobertas e onde apresenta um conjunto de espólio lítico e metálico, no I congresso Nacional de Arqueologia :

“ Porém, o lugar mais curioso que visitamos, foi o Monte de S. Martinho (…) de 302 metros de altitude, situado a SE. de Teira, onde fica um ponto trigonométrico e outrora existiu uma capela de invocação daquele santo, de que hoje não há mais que uns escassos alicerces e fragmentos de telha.
Ligeiramente a SW. desta elevação há uma outra de 265 metros de altitude (…) a que o povo das vizinhanças chama Monte do Castelo. Porém na vila de Rio Maior dá-se este nome ao Monte de S. Martinho.
Percorridas as duas elevações em todos os sentidos, verificou-se que na de S. Martinho, de forma cónica, existem ruínas de um grande castro, com três ordens de muralhas. Na de 265 metros não se encontrou o menor vestígio arqueológico.
No reconhecimento a que se procedeu, ainda recolhemos alguns fragmentos de grandes vasilhas, provavelmente da Idade do Bronze.
Ora, há 25 ou 30 anos, José Tomás, proprietário de terrenos que ficam na vertente S. do «castelo» (…) encontrou ao proceder a surribas, umas manchas rectangulares de «terra podre», onde havia vasilhas de barro muitas vezes partidas e alguns objectos metálicos.
Estas «terras podres», negras e soltas, não eram mais de que restos de sepulturas, de que hoje nada existe. Não podemos obter uma ideia aproximada dos tais recipientes, mas o sr. José Tomás guardou, por curiosidade, um grupo de machados metálicos constituído por:

- Um machado plano de cobre;
- Dois machados de talão providos de um simples anel;
- Um Machado de talão provido de duas pegas horizontais;
- Um machado de cubo.”

“O sr. João Tomás diz-nos ainda que encontrou vários punhalitos de cobre, a que chama «canivetes», em diversos lugares do Monte de S. Martinho. Perderam-se e na presente ocasião, tantos anos volvidos, não pode indicar com segurança o local dos achados.
Da encosta do Monte de S. Martinho e de lugares que não podem ser precisados há também os seguintes objectos:
- Dois machados de pedra polida;
- Um fragmento de placa de arqueiro (…) que o seu achador partiu ao meio com a enxada quando cavava. Guardou metade para si, para assentar a navalha de barba, e deu a outra metade, para igual fim, a um seu vizinho, que a extraviou.
- Uma matriz talvez de cobre (…) constituída por uma pequena superfície horizontal de 42x10x2 mm. Com uma das faces cortada por quatro sulcos horizontais e dezasseis verticais, formando um pequeno reticulado. Sobre a outra face solda uma pega vertical provida de um anel.
Julgou-se a princípio que esta peça rara servisse de matriz para ornamentação de cerâmica, mas verificou-se, que até hoje, nenhuma peça de barro nos apareceu com decorações que pudessem justificar o seu emprego.”

No 26º Congresso Luso-Espanhol para o Progresso das Ciências este mesmo grupo de investigadores apresenta o estudo sobre uma foice de cobre descoberta neste sítio arqueológico.

Nos anos oitenta do século XX o elenco camarário liderado por Manuel Nobre, tendo noção da importância deste sítio para a identidade desta região, encerra uma extracção de inertes, situada a meio da encosta E, estabelece uma cota altimétrica (curva de nível 275) como linha de limite de protecção ao castro e inicia, ainda, o cadastro dos proprietários deste cabeço para levar a efeito um processo de expropriação das parcelas situadas acima desta linha. Em 26 de Junho de 1981 estava concluído o levantamento dos proprietários e das respectivas áreas a serem expropriadas. Este processo não foi continuado pelos executivos seguintes.

Ao longo dos anos, este local tem vindo a ser alvo das mais diversas delapidações, desde da abertura de uma estrada florestal, cortando parte do sítio, cultivo de produtos agrícolas, plantação de eucaliptos e ainda a abertura de uma pedreira, a qual já consumiu uma parte significativa do Castro. Para além dos “ataques” de curiosos e “caçadores de tesouros”.

Sempre que se verificou, e tivemos conhecimento, dessas situações anómalas, procuramos registar, recolher espólio e informar as entidades competentes do que se passava.

Destas visitas, já existe em depósito, algum espólio cerâmico, lítico e metálico recolhido por um dos signatários ao longo dos anos setenta e oitenta do século XX, e parcialmente publicado por António Diegues nas actas do I Colóquio sobre história Regional e Local do Distrito de Santarém (Diegues, 1991).

Este investigador teve o seu primeiro contacto com o Castro de S. Martinho na sequência da sua participação no projecto de prospecção sistemática e investigação do Concelho de Rio Maior, designado por Carta Arqueológica de Rio Maior – CARM.

António Diegues elaborou e apresentou ao IPPC, em parceria com Salete da Ponte, o “Projecto de Arqueologia Espacial para a Serra dos Candeeiros – PAESC” centrado na investigação do Castro de S. Martinho. Em 1989 a Equipa liderada por esse investigador levou a efeito uma única campanha de decapagem superficial, limpeza, registo topográfico e fotográfico de estruturas visíveis. No decurso do ano 1991 deslocou-se ao Castro, a nosso pedido, para avaliação dos estragos provocados por maquinaria pesada.

Com a abertura da pedreira “Teira” na encosta W, inicia-se uma nova fase de perturbação deste sítio. De salientar a boa compreensão do proprietário da pedreira, o Sr. Cerejo dos Santos, o qual, quando alertado para o problema da estabilidade do Castro e da necessidade de se alterar o plano de lavra inicial, sempre se mostrou aberto a minimizar os impactos negativos neste sítio arqueológico.

Em 1998, quando detectamos que os limites de segurança aos trabalhos de extracção de inertes tinham sido largamente ultrapassados e a existência de graves problemas de estabilidade, com a ocorrência de escorregamentos, o proprietário, após avaliação da situação no local, connosco, a Dr.ª Gertrudes Zambujo e Dr.ª Sandra Lourenço, da extensão de Torres Novas do IPA, tomou a iniciativa de terminar o avanço da actividade extractiva nesta frente.

Contudo os trabalhos de lavra já tinham provocado estragos irreversíveis em áreas com espólio arqueológico, situação agravada por diversos escorregamentos do terreno em toda a frente, causados por factores diversos (vibrações, águas pluviais, pendente da encosta, etc.).

O texto acima é o extracto da Introdução do Relatório Técnico Cientifico da primeira campanha realizada em 2005 com o apoio e estudantes da Wake Forest University (EUA) e apresentado ao IPA, actualmente fundido no IGESPAR. Penso que, apesar de longo, dá uma retrospectiva do que se tem passado em torno deste importante local.

Um Castro não é nada mais, nada menos que o antepassado do Castelo, correspondendo a uma comunidade / aldeia rodeada de muralhas defensivas.

No decurso dos trabalhos arqueológicos, até ao momento realizados, foi recolhido uma grande quantidade de espólio, quase exclusivamente cerâmico, integrável em diversos períodos que vão da Idade do Bronze, Idade do Ferro, Romano, Medieval Islâmico e/ou Medieval Cristão e de eras mais recentes.

Em 2008 foram assinaladas as primeiras estruturas castrejas (parte de uma parede e muralha da Idade do Bronze / Idade do Ferro), mas os trabalhos estão apenas no início, para além de toda a importância científica inerente ao estudo deste sítio, este local tem uma enorme potencialidade de vir a tornar-se num importante pólo de atracção associado ao Dólmen, Gruta de Alcobertas, Silos e Forno Medieval, entre outras surpresas que estão para serem divulgadas.

Está em preparação uma exposição para Alcobertas, com alguns dos materiais exumados durante as escavações e de outros locais da Freguesia.

O futuro das peças recolhidas passa pela criação de condições para a criação de um Núcleo Museológico, onde o espólio ficará, uma parte em exposição e o restante em depósito.

Bibliografia sobre o Castro

ALMEIDA, D. Fernando de (1979) — Breves palavras sobre a Arqueologia de Rio Maior. Revista de Guimarães, vol. 88. Barcelos

ARAÚJO, Ana Cristina e ZILHÃO, João (1991) — Arqueologia do Parque Natural das Serras de Aires e Candeeiros. Colecção Estudos n.º 8, Lisboa: Serviço Nacional de Parques, Reservas e Conservação da Natureza.

DIEGUES, António José (1987) — Alguns materiais metálicos recolhidos no Concelho de Rio Maior. campanha de Prospecção do C.A.R.M.— 1986. I Colóquio sobre História Regional e Local. Santarém: Escola Superior de Educação

PAÇO, Afonso do, BARBOSA, Francisco, SOUSA, José do Nascimento e BARBOSA, Francisco Bergstrom (1959) — Notas Arqueológicas da Região de Alcobertas (Rio Maior). I Congresso Nacional de Arqueologia. Lisboa

PAÇO, Afonso do, BARBOSA, Francisco e BARBOSA, Francisco Bergstrom (1962) — Foicinha de Bronze do castelo de S. Martinho (Rio Maior). Associação Portuguesa para o Progresso das Ciências. Porto.

Carlos Pereira


Boa noite

4 comentários:

Anónimo disse...

Olá a todos....


Uma boa lição de história.... Quem diria...

A quem desconhece este momumento e tem intenções de o conhecer, tenho um conselho a dar: levem um corta mato!!!!!

Este é o turismo que tanto falam????....


"GRUTAS"

Anónimo disse...

Todos nós (abitantes de ALCOBERTAS) deviamos estar orgulhosos por ter aquele monomento ali é um monomento bonito se alguem cuida-se dele. Mas preferem ir gastar dinheiro noutras coisas. Pois é limpar o mato custa muito, é mais facil ficar o dia todo deitado sem fazer nada. Mas para que servem os sapadores? Sera que é para andarem ai num carro amarelo todos sorridentes. Será ? Estou a pensar seriamente, asserio que estou.
Com esta idade precebo isso (tenho 11 anos) os adultos () não precebem ?

Anónimo disse...

Um excelente post. Parabéns!

Resta-me pedir aos serviços competentes (Junta e Câmara) um esforço para dignificar o local e fazer dele um produto "vendável".

Anónimo disse...

ALCOBERTAS e SEUS BLOGS:


1 - Como Alcobertense Atento reconheço e felicito o bom trabalho deste blog.

2 – Estão a alertar os responsáveis a população e os jovens em particular.

3 – Desenvolvem e promovem as Alcobertas e as infra estruturas básicas.

4 – Como Alcobertense Atento dou os parabéns ao jovem Bruno um exemplo a seguir não diz que vai fazer, trabalha e recupera habitações degradas.

5 – Na Freguesia muitas pessoas adquirem a segunda casa e visitam os blogs.

6 - Alguns filhos desta Terra vêm recuperar as casas dos seus familiares.

7 - Outros gostam deste tipo de habitações vêm viver para nossa Terra.

8 – Outros compram e vêm passar os fins-de-semana, feriados e férias.

9 - Alem das casas que o Bruno reconstrói, temos muito património.

10 - Emitem o Bruno trabalhem é assim que se recupera o património.

11 – Mas se não querem trabalhar deixem os outros trabalharem.

12 – As Alcobertas têm Potencialidades Históricas e Humanas estamos à espera de quê ou de quem, temos de deixar de mendigar e passar a impor.

13 – Alcobertas é!!! - Alcobertenses são? - Alcobertas somos todos nós estamos à espera de quê ou de quem? Só falta é dinamismo e muitos Brunos.

14 – Queremos Ideias Novas e Projectos à moda do Casal de Val-de-Ventos, O POVO Coopera na iniciativa a Autarquia Acaba à Grande.

15 - A nossa autarquia tem o lema não começa nem acaba, não faz nada.

16 – É como na piscina nada, nada e nada, anos seguidos até fartar.

17 – Com gente desta esperamos o quê? Vamos é nós trabalhar.

18 – Quais são as obras que têm orçamentação autárquica para 2009, para Alcobertas?

19 - Deixo aqui outra pergunta, vão ser realizadas? E quando?

20 - Responda quem tem o direito de o fazer, ou ficamos a aguardar para ver?

“Alcobertense Atento”